A Frente Parlamentar da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial, coordenada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo pelo deputado estadual Caio França (PSB), ouviu especialistas nesta quinta-feira (29) sobre o uso terapêutico de canabinoides, substâncias extraída da cannabis, em tratamentos dentários. Em síntese, os cirurgiões-dentistas apontaram avanços promissores trazidos pela cannabis no alívio de dores orofaciais e de inflamações nas gengivas, no combate de bactérias e na controle da ansiedade em atendimentos odontológicos.
“No Brasil, a regulamentação desse uso avançou significativamente com a [Resolução de Diretoria Colegiada] RDC 660/22 da Anvisa que autorizou cirurgiões-dentistas a prescreverem produtos à base de cannabis. “Apesar do progresso ainda existem desafios”, salientou o coordenador. Diante das evidências relatadas pelos dentistas, França afirmou que é preciso “democratizar o acesso, principalmente para as pessoas que não têm condição de pagar”, ressaltou o parlamentar paulista, referindo-se ao alto custo dessas terapias odontológicas à base dos compostos químicos da cannabis.
França é autor da Lei 17.618/2023 que regula o fornecimento gratuito no estado de São Paulo de medicamentos oriundos de canabidiol, os quais ainda estão restritos a epilepsias de difícil controle, a exemplo das síndromes de Dravet, de Lennox-Gastaut e o Complexo da Esclerose Tuberosa (CET). “Nossa luta é ampliar as patologias contempladas”, disse.
Alvos terapêuticos
Os especialistas pontuaram que a dor orofacial (a que atinge face, pescoço, boca ou mandíbula) foi a grande porta de entrada da cannabis na odontologia, especialmente pelo fato de que até 40% da população mundial vive com dor crônica. “Sem dúvida nenhuma a dor aproximou o cirurgião-dentista do uso dos canabinóides”, relatou Alethéia Pablos, diretora da Associação Panamericana de Medicina Canabinoide (APMC).
Aletheia sublinhou que o uso da cannabis na odontologia avançou ainda mais quando o sistema endocanabinoide, responsável por regular funções fisiológicas como dor, inflamação, sono e ansiedade, passou a ser visto como foco da terapêutica canabinoide. Ela ressaltou, por exemplo, que todas as células do conjunto funcional da boca apresentam receptores canabinoides. “Isso significa que praticamente todos os tecidos e todas as células são alvos terapêuticos para a cannabis”, explicou a especialista.
Pacientes na dianteira
O cirurgião-dentista João Paulo Tanganeli destacou o comportamento dos pacientes em face dos resultados “que fazem sentido cientificamente” da cannabis na odontologia. “Os pacientes estão procurando a terapia. A gente já passou daquela etapa em que você tinha que convencê-lo. Agora o paciente já vem informado”, declarou o especialista que lidera um grupo de trabalho sobre canabinoides do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP). Apesar do entusiasmo social, Tanganeli incentivou a continuidade das pesquisas científicas em torno do tema. “A gente precisa de mais estudos”, frisou.
Caso clínico
A dentista Rafaela da Rosa, autora do primeiro livro no Brasil sobre cannabis na odontologia, compartilhou o caso clínico de um paciente com bruxismo (hábito de ranger os dentes) obteve melhora clínica significativa com o uso de um produto rico em canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC), prescrito pela profissional e importado via RDC 660. Ela defendeu a eficácia dos medicamentos feitos a partir de que apresentam “menos efeitos adversos, devolvendo qualidade de vida com perfil de segurança altíssimo”.
Evidências científicas
Por fim, o cirurgião-dentista Fábio Bibancos, fundador da ONG Turma do Bem, enfatizou que a discussão em torno do tratamento dentário com produtos da planta cannabis deve ser movida pela ciência e não por dogmas religiosos. Também criticou a ignorância institucionalizada que impede o avanço da cannabis medicinal no Brasil, enquanto “nossos vizinhos [os países da América] regulam, pesquisam e faturam com cannabis”.
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Fonte: Alesp – Foto: Bruna Sampaio/Alesp