Demolição de Terreiro de Candomblé em Carapicuíba expõe intolerância religiosa

Demolição de Terreiro de Candomblé em Carapicuíba expõe intolerância religiosa

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O Terreiro de Candomblé Ilê Asé Odé Ibualamo, instalado as margens do Córrego do Cadaval há mais de 30 de anos, foi demolido pela Prefeitura de Carapicuíba em dezembro de 2022. 

A mãe de santo Odecidarewa Mãe Zana Yalorixa está sem local para morar, desde que o seu terreiro de candomblé de 200 m² foi demolido. Segundo matéria publicada pela Folha de S. Paulo, Mãe Zana se reveza em casa de amigos e parentes e batalha para conseguir outro imóvel para a atividade religiosa.

A ação para demolição do terreiro foi determinada pela prefeitura de Carapicuíba, que na época alegou que o imóvel apresentava risco de desmoronamento em razão da instabilidade do solo e problemas estruturais. No local acontece uma obra para canalização do trecho III do Córrego do Cadaval que visa o controle de enchentes.

Mãe Zana associa a demolição a intolerância religiosa e fala que houve falta de diálogo com a gestão municipal de Carapicuíba. As obras começaram em meados de 2007 e chegaram, no ano passado, a um trecho muito próximo ao terreiro dela.

Segundo a mãe de santo, a conclusão do laudo que apontou risco de desabamento foi culpa da prefeitura. “Causaram uma situação de risco iminente. Com isso, começaram a abrir rachaduras imensas que nos impossibilitavam de transitar no espaço”, disse.

Mãe Zana, que era dona de um terreiro de mais de 30 anos que foi desapropriado em Carapicuíba – Karime Xavier/Folhapress

A gestão do Prefeito Marcos Neves (PSDB) disse que foi oferecida carta de crédito para que as atividades do terreiro continuassem em outro local, “porém, a mesma não apresentou os documentos para ser contemplada”, afirmou.

A prefeitura ressaltou que respeita e apoia a diversidade de credos e atividades religiosas. “Todos os esforços foram feitos a fim de que o centro religioso fosse transferido para outro local.”

O vereador de Carapicuíba Ednaldo Souza Silva (PT), diz que a ação da prefeitura foi arbitrária e “equiparou o terreiro a um boteco” ao oferecer a carta de crédito. “Houve intolerância religiosa. Se lá fosse uma igreja católica, seria o mesmo tratamento?”

Após audiência pública, que contou com a presença da Defensoria e o Ministério Público Federal no fim de abril. A defensora Vanessa Alves Vieira, coordenadora do Núcleo Especializado de Diversidade e Igualdade Racial, afirmou que houve um diálogo inadequado em relação ao terreiro, que foi tratado como uma habitação comum, sendo que se trata de um templo religioso e local de referência para a população negra. Ela relatou que na audiência a prefeitura não deu nenhum tipo de alternativa. “Foram oferecidas opções habitacionais, mas que não são compatíveis com a natureza desse território”, afirma.

Depois da demolição, havia ainda a expectativa de que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) conseguisse ao menos retirar obras que restaram dos escombros da demolição —o órgão chegou a fotografar o local na véspera da reunião e entrou com pedido para a prefeitura. Porém, no dia seguinte à audiência, as obras foram retomadas e as estruturas remanescentes do terreiro foram demolidas.

Agora, a Defensoria atua a fim de auxiliar a realocação do terreiro. O MPF afirma que está adotando medidas para assegurar os direitos da comunidade. Mãe Zana lamenta. “Não temos mais como resgatar nada do que ficou lá. Foi tudo perdido: a minha hierarquia e heranças da minha família. É uma violência surreal.”

Leia também: PT Osasco realizará caminhada para “denunciar o descaso do prefeito com a saúde”


*Com informações Folha de S. Paulo – Foto: Karime Xavier/Folhapress

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