Dados do Ministério da Saúde registraram, em 2018, 141,4 mil casos de acidentes com escorpiões em todo o País. Em 2017, foram 125 mil registros de acidentes. Escorpiões são um risco em qualquer época do ano, mas no período do calor eles se proliferam com maior intensidade. Carlos Roberto de Medeiros, toxicologista e imunologista, gerente médico do Ceatox – Centro de Assistência Toxicológica do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP -, conta que a principal espécie causadora de acidentes no Brasil é o Tityus serrulatus, também conhecido como escorpião amarelo. Ele explica que “esse artrópode se reproduz por partenogênese, ou seja, não há necessidade de acasalamento”. Podendo dar cria pelo menos duas vezes ao ano, o que era um único escorpião em casa pode virar de 20 a 25 filhotes, transformando-se em um grande problema.
Operários da construção civil, quem trabalha na rua com esgoto ou movimentando materiais que ficaram parados, como o lixo, estão mais predispostos à picada do artrópode. Para evitar acidentes, alguns cuidados podem e devem ser tomados, como conta Medeiros. “Os escorpiões se adaptaram muito bem aos grandes centros urbanos. Com hábitos noturnos, gostam de ficar em lugares úmidos e escuros. As galerias de águas pluviais, esgotos e locais com grande acúmulo de lixo são o habitat ideal, já que costumam ter baratas, seu alimento preferido.”
Somente no ano passado, ocorreram 381 casos de escorpianismo no município de São Paulo. Para evitar esse encontro indesejado com escorpiões, Medeiros diz que alguns bons hábitos podem ajudar: “Tapar frestas nas paredes, colocar redes nos ralos no chão e pias, evitar acúmulo de lixo e materiais de construção, cortar o mato, evitar acumular louça para lavar, já que atrai baratas e os escorpiões. Não deixar o bercinho do bebê encostado na parede. Não deixar a roupa no chão e chacoalhar antes de usar, fazendo o mesmo com os sapatos para evitar a picada desse artrópode”.
Carlos Roberto de Medeiros – Foto: Repositório do Instituto Butantan
Crianças são o principal grupo de risco
Existem mais de 2.400 espécies em todo o mundo, distribuídas em 20 famílias, sendo a Burtity uma das mais significativas, uma vez que seu veneno tem toxinas que agem em mamíferos, particularmente em seres humanos. No Brasil, o gênero Tityus é o mais importante, destacando-se o serrulatus ou escorpião amarelo, que pode ser encontrado em quase todo o País, mas há também o bahiensis, stigmurus e outras espécies.
As crianças são o principal grupo de risco. Após uma picada, o atendimento médico deve ser feito o mais rápido possível, já que os sintomas podem evoluir em pouco tempo para um quadro gravíssimo, podendo levar a óbito. Medeiros cita que, “no ano passado, sete crianças morreram no Estado de São Paulo, das quais seis com menos de 10 anos e uma de 11”. Em caso de acidentes, não é necessário ter o escorpião para agilizar o atendimento, tempo é a palavra-chave para quem for picado pelo animal. E, caso apareçam escorpiões em casa, o ideal é pedir um auxílio ao Centro de Controle de Zoonoses para lidar com a situação. No município de São Paulo, além do Instituto Butantan, há cinco locais apropriados para o atendimento em casos de picada do artrópode.
Fonte/Texto: Jornal da USP/Simone Lemos – Imagem Capa: Foto/Laboratório de Toxinas Animais/FCFRP