Natural da cidade de Gandu, no interior da Bahia, Lucas Coelho é um dos maiores nomes do fisiculturismo nacional. Pela segunda vez seguida, o atleta representará o Brasil na categoria 212 do Mister Olympia (campeonato mais importante desse esporte em todo o planeta mundo) em dezembro.
“The Chosen One”, como muitas vezes é chamado, o fisiculturista se classificou para o Mister Olympia de 2022 após vencer o MuscleContest São Paulo. Em 2021, ele venceu o Mister Big Evolution, chamado popularmente de “Portugal Pro”, e estreou no maior palco do mundo com a 12º posição.
Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, ele conta desde o que caracterizou como “lixo”, seu período como dependente químico, até o “luxo”, com seu nome estampado na história do esporte brasileiro.
Início no esporte
“Sempre sonhei em ser atleta, desde criança. Sempre tive uma paixão muito grande pelo esporte”, lembra Lucas. Um dos pontos de virada que o levou do futebol à musculação foi uma revista do final dos anos 1990 que mostrava fotos dos dois maiores fisiculturistas de todos os tempos, Ronnie Coleman e Arnold Schwarzenegger. Dali, eu falei para minha mãe que eu queria ser daquela forma. E então, nasceu uma paixão muito grande pelo fisiculturismo”, conta.
O atleta iniciou sua trajetória nos palcos aos 27 anos. Em 2012, ele estreou no ‘Califórnia Brasileira’, em Ribeirão Preto (SP), e de cara já foi o campeão do evento.
“Explorei meu potencial genético ao máximo. Não sabia fazer dieta, mas treinar… também não sabia, mas colocava meu coração. Fazia 10 (repetições) a mais sempre, sempre dando meu melhor, na medida do que eu acreditava que era um treino bem feito”, aponta.
Ao falar sobre sua conquista do pro card (‘cartão profissional’, honra concedida àqueles que conquistam o direito de competir dentro da liga profissional), ele destaca sua força de vontade para chegar ao topo: “O cartão profissional foi algo muito transformador na minha vida, porque eu sonhava com isso. E quando você sonha e trabalha em prol dos seus sonhos, não vai demorar para ele se tornar realidade. Quando ele nasce no seu coração, é porque Deus mostra que você tem capacidade, dentro de você, de alcançá-lo. E eu sempre profetizei isso: ‘Futuro pro 212’. Fui lá, trabalhei, acreditei nos meus sonhos e me tornei profissional.”
Luta contra o vício
Uma das etapas mais marcantes da vida de Lucas é, sem dúvidas, o período em que ele se encontrava à mercê do vício. Ele não enxerga sua luta como uma fraqueza ou motivo de vergonha, e faz questão de lembrar de quando se tornou refém das drogas.
“É algo que eu vivi e que vale a pena ser contado, porque todo dia chega gente nova na minha rede social. Sempre tem gente nova e eu tenho sempre que mostrar para essas pessoas que Deus não escolhe o capacitado, ele capacita o escolhido. Ele dá forças para você vencer. E contar minha história, hoje, não fortalece só a mim, como também outros garotos que me mandam mensagem… pais, mães que têm um filho dependente químico e falam: ‘se você deu a volta por cima, eu acredito que meu filho também dará”, afirma.
O atleta entende “todo o processo necessário” para se tornar quem é hoje, e destaca que “as dores e as pedras” colocadas em seu caminho o fizeram construir uma “fortaleza”. “O meu interesse hoje não é ser famoso (…) eu quero que as pessoas ouçam que Deus resgatou um homem do lixo e o levou para o luxo. Que há esperança não só para mim, há esperança para todos”, completa.
“Acabei descendo ao mundo obscuro das drogas e isso me levou a degenerar minha vida. Eu cheguei a parar na cracolândia, no centro da cidade de São Paulo. Deus teve tanta misericórdia que colocou pessoas que estenderam a mão para mim, e meu coração clamava por socorro. Eu não tinha forças para sair dali. Viciado. Mas eu pedia a Deus que me tirasse. Meu dinheiro era todo para a droga, e não para qualquer outra coisa. E Deus, na sua santa misericórdia, colocou pessoas que me estenderam a mão e eu pude sair dali. E hoje eu vivo levando de fato o que Deus fez na minha vida. Deus me dá a oportunidade de falar quem eu era, aonde eu estou chegando. Eu cheguei a viver nas ruas, cheguei a comer lixo nas ruas”, relata.
O fisiculturista, hoje, carrega a palavra de Deus, mas não se considera um religioso: “Não peço para que as pessoas me vejam como um cara religioso, porque eu não sou religioso. Sou um cara cristão que acredita 100% em Deus, e eu dedico a minha vida para ele, porque ele me resgatou de um lugar obscuro, e hoje eu posso estar vivendo a realização dos meus sonhos.”
“O cara que está buscando a droga, ele não está vivendo no mundo correto, em que ele tem o equilíbrio mental. Ele está vivendo em um mundo paralelo, no qual o seu subterfúgio é algo que te tira da normalidade”, ressalta o baiano.
Preparação para o Mister Olympia e treinos com Roelly Winklaar
“Eu tenho uma promessa na minha vida: a de me tornar o Mister Olympia. E eu estou trabalhando em prol disso. Eu trabalho duro“, dispara o fisiculturista. Ao falar sobre a edição deste ano, Lucas também declara que sua meta é estar entre os cinco primeiros colocados do mundo.
Para Lucas, “quando você dedica seu coração e direciona seu sonho para suas mãos, e você consegue executar com as suas mãos tudo aquilo que é necessário para melhorar”.
“Quando eu não consigo mais, Deus me carrega no colo e eu consigo executar tudo da melhor forma possível”, diz.
Nesta preparação, Lucas conta com a ajuda de uma lenda do fisiculturista mundial, Roelly Winklaar. Terceiro colocado no Mister Olympia e vencedor do Arnold Classic Austrália em 2018, “The Beast” veio ao Brasil para treinar o atleta durante 20 dias.
“Eu conversei com meus patrocinadores e eles trouxeram o Roelly para cá, para ser meu treinador, em um ‘training-camp’ curto. Ele já está acrescentando muito na minha vida, e os dias em que ele estiver por aqui serão algo transformador“, destaca. Segundo Lucas, “um top3 Olympia grandioso como o Roelly Winklaar pode acrescentar na vida de qualquer atleta. Estou vivendo um sonho que não é só meu. Garanto que todo atleta brasileiro queria estar passando por essa experiência.”
Fonte: TV Cultura