As forças de segurança paulista recapturaram em dois dias da saída temporária 312 detentos no estado de São Paulo. Somente na quarta-feira (18), 125 foram presos pela Polícia Militar por descumprimento de medidas restritivas impostas pela Justiça, além de 12 detidos em flagrante. Já a Guarda Civil Metropolitana (GCM) efetuou 30 prisões. Todos foram reconduzidos ao sistema prisional.
Na capital paulista e na Grande São Paulo, foram 55 recapturados pela PM no segundo dia da “saidinha”, o que corresponde a quase metade dos detidos no estado. Em Osasco, mãe e filha foram presas fora do município informado à Justiça.
No interior do estado, houve 70 prisões, sendo 14 na região de Ribeirão Preto, 10 na região de Piracicaba, 9 nas regiões de Sorocaba e São José do Rio Preto, 7 em São José dos Campos, 6 em Presidente Prudente, 5 em Campinas e Bauru, 4 em Santos e uma em Araçatuba.
Na terça-feira (17), no primeiro dia do período do benefício, a PM recapturou 157 detentos em todo o estado. Essa é a terceira saída temporária de presos concedida pela Justiça no ano em São Paulo. Na última, realizada entre 11 e 17 de junho, 677 detentos foram recapturados em todo o estado pelas forças de segurança.
Condições para o benefício
Para ter direito ao benefício concedido pela Justiça, os detentos devem cumprir uma série de medidas. Eles precisam permanecer na cidade informada ao Poder Judiciário, não estar nas ruas no período noturno, ficam proibidos de frequentar bares, boates, envolver-se em brigas ou praticar qualquer outro ato considerado grave perante o Poder Judiciário.
Após a recaptura, os detentos são encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para exame pericial e, então, levados aos Centros de Detenção Provisória ou à Penitenciária Feminina.
Desde o ano passado, os detentos flagrados pelos policiais infringindo as normas impostas pelo Poder Judiciário são conduzidos imediatamente ao estabelecimento prisional, conforme prevê uma portaria publicada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) com a anuência da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP).
Além disso, um acordo de cooperação entre a SSP e o Tribunal de Justiça do estado facilitou o acesso de policiais aos processos dos réus que cumprem a pena fora das prisões. Por meio dos dispositivos móveis, é possível consultar a situação prisional do abordado e, assim, verificar se as medidas cautelares impostas pela Justiça estão sendo cumpridas.
As Forças de Segurança do Estado de São Paulo recapturaram 677 detentos flagrados descumprindo as medidas judiciais durante a saída temporária, que terminou na última segunda-feira (17).
A maioria das prisões realizadas pela Polícia Militar aconteceu na cidade de São Paulo e região metropolitana, com 194 detentos recapturados. Ribeirão Preto vem na sequência, com 111 presos, e a região de Campinas, com 64.
Assim que recebem o benefício e saem do presídio, os presos devem permanecer na cidade declarada à Justiça, ficam proibidos de frequentar bares, boates, envolver-se em brigas, andar armado ou praticar qualquer outro ato considerado grave perante ao Poder Judiciário. Ainda devem permanecer em casa durante o período noturno. A violação dessas medidas pode resultar na detenção do sentenciado.
No estado de São Paulo, desde o ano passado, todo detento flagrado infringindo as regras é reconduzido ao Instituto Médico Legal. Após o exame pericial, o policial responsável pela condução leva os sentenciados aos Centros de Detenção Provisória ou para a Penitenciária Feminina da capital, conforme prevê uma portaria da Secretaria da Segurança Pública (SSP) com o aceite da Secretaria de Administração Penitenciária.
Além disso, o acordo de cooperação entre a SSP e o Tribunal de Justiça de São Paulo permite que os policiais tenham acesso às informações dos detentos beneficiados. Dessa forma, é possível verificar durante a abordagem se as regras da saída temporária determinadas pela Justiça estão sendo cumpridas.
Em um ano, mais de 2,1 mil recapturados
Desde de junho do ano passado, quando teve início a fiscalização do cumprimento das medidas impostas pela Justiça, as forças de segurança de São Paulo recapturaram mais de 2,1 mil sentenciados em todo o estado.
Um terço das detenções (721) foi na capital paulista e região metropolitana, conforme balanço da Secretaria da Segurança Pública (SSP). A região Ribeirão Preto aparece em seguida com quase 300 detidos.
Neste ano, a primeira “saidinha” autorizada pelo Poder Judiciário, que aconteceu entre 12 e 18 de março, foram recapturados no estado 460 detentos violando as medidas judiciais.
As denúncias anônimas feitas para a Polícia Militar alcançaram no ano passado o maior número em dez anos. De janeiro a dezembro, foram registradas 93,6 mil queixas nas plataformas oficiais, um aumento de 25% em relação a 2022, quando houve 74,9 mil notificações.
Os registros são feitos por telefone, via 181, ou pela plataforma on-line do Web Denúncia. As informações passadas pelos cidadãos são analisadas por uma equipe especializada e ajudam a corporação a solucionar crimes. Somente no ano passado, as denúncias permitiram à polícia prender 5,3 mil suspeitos, sendo 1,8 mil foragidos da Justiça.
Em novembro do ano passado, por exemplo, uma denúncia anônima feita pelo 181 foi responsável pela localização de 34 “mulas” — pessoas que transportam drogas dentro do próprio corpo. O grupo, que estava em uma casa na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, levaria o entorpecente para o exterior. Uma pessoa responsável pelo esquema foi presa em flagrante, e diversos passaportes foram apreendidos.
Até 2013, as informações podiam ser passadas apenas pelo telefone 181. Depois, foi criado o Web Denúncia, a primeira plataforma do país para receber notificações pela internet. Ainda é possível anexar fotos e vídeos do crime.
Das 93,6 mil denúncias, 71,6 mil foram registradas pela internet e 22 mil por telefone. O número alcançado pela plataforma on-line também é recorde e mostra que, apesar de ter pouco tempo em funcionamento, está crescendo entre a população pela facilidade de acesso ao site. Só neste ano, nos meses de janeiro e fevereiro, o serviço recebeu 16,6 mil denúncias nos dois canais.
“O que temos visto é que com o passar do tempo a sociedade vai conhecendo melhor o programa e passa a ter mais confiança no serviço. Como consequência, acaba denunciando mais”, disse o analista estratégico do Disque Denúncia, sargento Caligiuri.
Qualquer tipo de crime pode ser denunciado na plataforma. Os mais comuns são de tráfico de drogas, roubos, furtos e informações sobre procurados pela Justiça. O analista do serviço destacou a importância da participação da comunidade. “A polícia depende da parceria da sociedade para o serviço funcionar. É por meio das denúncias que conseguimos solucionar diversos crimes”, observou o sargento. “A polícia não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo e saber de todos os fatos que acontecem.”
Apesar dos registros, muitas pessoas não fazem as denúncias por medo ou insegurança. No entanto, em ambas as ferramentas o denunciante pode passar informações sem ser identificado, o que garante o anonimato e o sigilo da identidade.
Para fazer o registro, basta clicar em “Denunciar”, escolher o tipo de crime e preencher o formulário com os dados da ocorrência. Ao final, é fornecida uma senha pelo sistema para que o denunciante possa acompanhar a apuração da polícia.
Já se o cidadão preferir passar as informações por telefone, é só ligar para o 181. Ele será atendido por um telefonista e poderá fornecer as informações para que a denúncia contra o crime seja registrada.
A Polícia Militar prendeu 79 mil pessoas e apreendeu 156 toneladas de drogas em 2023, durante a Operação Impacto, que foi deflagrada em todo o Estado. Dentre os presos, 26,6 mil eram procurados da Justiça.
A operação foi realizada com o objetivo de ampliar a ação ostensiva para aumentar a sensação de segurança da população e reduzir os indicadores criminais por meio de planejamento estratégico baseado no uso de inteligência policial e geoprocessamento de dados, que permite identificar os pontos com os maiores índices de criminalidade.
A ação também teve desdobramentos em áreas específicas, que apresentaram maiores índices de crimes, sobretudo os contra o patrimônio. No Centro de São Paulo, o policiamento foi ampliado com mais de 120 agentes diariamente nas ruas. Além disso, outras regiões também tiveram reforço em dias específicos, como a Faria Lima e a Avenida Paulista.
Como resultado, a operação contribuiu para a queda dos indicadores de roubos no Estado. Os roubos em geral registraram queda de 5,8%, e os de veículos, 8,8%.
“Os números da Operação Impacto falam por si só. Logo no começo da nossa gestão colocamos nas ruas essa operação para que os criminosos – e a população – soubessem que a polícia estaria presente, e foi assim durante todo o ano. A Polícia Militar abraçou esta operação e respondeu com produtividade exemplar e com um recado claro: a criminalidade não terá descanso enquanto estivermos à frente da Segurança Pública”, destacou o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite.
Além dos presos e das drogas recolhidas, a ação também retirou das ruas, entre 11 de janeiro de 2023 e 1 de janeiro de 2024, mais de 4,3 mil armas de fogos irregulares, que poderiam estar nas mãos de criminosos.
No mesmo período, a operação vistoriou mais de 3,7 milhões de veículos nas ruas e estradas paulistas. Destes, 117,3 mil carros e 58,9 mil motos que estavam em situação irregular, colocando a vida de motoristas, passageiros e pedestres em risco, foram apreendidos.
Os homicídios dolosos caíram 11,5% no estado de São Paulo nos 10 primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2022. O total passou de 2.405 para 2.128 casos. Se considerado apenas outubro, foram 27,4% casos a menos, queda de 270 para 196 de um mês para o outro. Nos dois comparativos, os números atingiram a menor série histórica, iniciada em 2001.
Os latrocínios, no acumulado do ano, registraram um caso a menos, com 134 ocorrências, menor número em 23 anos. No mês, porém, houve alta de quatro casos, de 11 para 15.
A redução dos indicadores de crimes que resultam em mortes é prioridade das forças policiais, que busca implementação de políticas públicas eficazes. Uma dessas iniciativas é o Sistema de Informação e Prevenção aos Crimes Contra a Vida (SPVida), lançado em fevereiro. A plataforma automatiza os dados e auxilia as polícias a analisar a dinâmica criminal destes delitos, para que, desta forma, seja possível elaborar diagnósticos e planos de ações com o intuito de reduzir as mortes no Estado.
Os estupros aumentaram 6,6% no mês e 8,3% de janeiro a outubro, passando de 1.189 para 1.267 notificações e de 11.140 para 12.070, respectivamente. O crime de estupro é o que tem o mais alto índice de subnotificação. Por isso, de acordo com a dra. Jamila Jorge, coordenadora estadual das Delegacias de Defesa da Mulher, o aumento de registros indica que agora as vítimas possuem mais confiança para procurar a polícia e denunciar os agressores.
Nos 10 meses do ano, os roubos também caíram. Os gerais foram de 200.013 para 190.888 notificações, recuo de 4,6%. A queda também foi acompanhada no mês, que teve 19.295 notificações, ou seja, 10,3% a menos que as 21.501 ocorrências registradas em outubro do ano passado.
Os roubos de veículos também recuaram 6,9% de janeiro a outubro, passando de 32.908 para 30.622 boletins. No mês passado, a queda foi ainda maior, de 16,3%, com redução de 3.982 para 3.333 casos.
Em outubro, os roubos de carga tiveram um caso a mais, registrando 489 ocorrências. Nos 10 primeiros meses do ano, no entanto, houve queda de 5,5% boletins, de 5.201 para 4.913. Já os a banco, caíram de 14 para 8 casos no acumulado e de 1 para 0 em outubro.
Os furtos em geral cresceram 3,3% de janeiro a outubro, de 466.626 para 481.800. No 10º mês do ano, a alta foi de 2,8%, com 50.660 notificações. Os de veículo, por sua vez, caíram tanto em outubro quanto no acumulado. Em 10 meses, os registros passaram de 79.628 para 78.643, ou seja, 1,2% a menos. Já no mês passado, a queda foi de 7,3%, de 8.825 para 8.177 boletins.
De janeiro a outubro, o trabalho das polícias de São Paulo resultou no aumento de produtividade em todo o Estado ao longo dos últimos 10 meses. No período, foram presas e apreendidas 157.153 pessoas, 5,4% a mais do que as 149.133 detidas nos mesmos meses do ano passado.
Ainda foram apreendidas 240 toneladas de drogas, 34 toneladas a mais do que as apreensões realizadas no ano passado. O número de armas de fogo apreendidas cresceu 10,9%, com 9.328 retiradas das ruas nos 10 meses deste ano. Já a quantidade de carros recuperados, no mesmo período, passou de 34.536 para 37.635, 9% a mais.
A violência das polícias militares no Brasil contra negros e pobres poderia ser profundamente alterada com uma mudança na política de segurança pública. A opinião é da cientista social Sílvia Ramos, coordenadora da rede de Observatórios de Segurança, em entrevista ao programa Viva Maria, da Rádio Nacional.
Durante a semana, a entidade divulgou levantamento que mostra que – a cada 100 mortos pela polícia em 2022 – 65 eram negros. O levantamento foi batizado de Pele Alvo: a Bala não Erra o Negro.
A pesquisadora enfatiza que há exemplos de polícias em diferentes partes do mundo que mudaram o caminho do combate à criminalidade. “É perfeitamente possível utilizar inteligência, investigação, planejamento e operações de longo prazo. E não operações espetaculares, onde a polícia vai a uma região, mata duas ou três pessoas, recolhe três ou quatro fuzis, e, dali a um tempo, a situação está até pior do que antes”, exemplifica.
Ela contextualiza que existe a possibilidade de impedir o fluxo dessas armas e drogas, e dessas munições nesses territórios. Para isso, é preciso identificar onde está o abastecimento de equipamentos ilegais. A seguir, defende que o caminho seria buscar as fontes do abastecimento e não “na ponta final, onde tanta gente morre e onde tanta gente fica em risco”.
Contrastes na abordagem
Neste sentido, as políticas de segurança deveriam estar baseadas em inteligência e investigação para que mortes sejam evitadas. “Nós temos uma situação: ao invés de fazer operações de inteligência, as polícias fazem operação de confronto. Ao invés de prisão, fazem tiroteio”, opina.
Os números mostram que as políticas de segurança são extremamente violentas, letais e racistas. “Porque fazem e atuam de uma certa forma nas áreas pobres e populares da periferia e atuam de forma totalmente diferente nas áreas ricas, abastadas e brancas”, diz Silvia.
A Polícia Militar de São Paulo irá reforçar o policiamento com mais de 1,2 mil homens nas ruas de todo o estado para garantir a segurança dos estudantes que irão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo (5).
Os policiais também auxiliarão nas escoltas das provas até os locais de aplicação, incluindo em unidades prisionais e socioeducativas, onde serão feitas as reaplicações para pessoas privadas de liberdade, de acordo com o convênio Celebrado com o Ministério da Educação, por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais “Anísio Teixeira” (INEP).
Além do policiamento de área, os policiais dos Batalhões de Ações Especiais (BAEP) também prestarão reforço. Ao todo, serão empregadas mais de 594 viaturas, incluindo motocicletas.
O policiamento preventivo, por meio de georreferenciamento e inteligência policial, promoverá as estratégias para garantir a segurança e a preservação da ordem pública ao longo do dia.
Policiais Militares do 5º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) apreenderam grande quantidade de drogas no bairro Jaguaribe, município de Osasco, na última quinta-feira (6).
Durante uma incursão na comunidade Anísio da Silveira, as equipes do Canil juntamente com o cão policial Colt, inserido na patrulha, encontraram drogas no interior de algumas caixas de madeira.
Foram apreendidos 604 papelotes de cocaína, 50 porções de maconha, 35 pedras de crack e 2 pacotes com maconha a granel, totalizando aproximadamente 1,5 quilos de drogas.
A ocorrência foi encaminhada ao 8º Distrito Policial de Osasco/SP, para as providências de Polícia Judiciária.
Uma operação realizada pela Polícia Militar de SP conseguiu capturar, em sete dias, 854 suspeitos contra os quais havia em aberto mandados de prisão expedidos pela Justiça. Esse contingente é suficiente para encher uma penitenciária no estado, presídios têm capacidade média de 847 vagas.
Essa quantidade também é superior às 707 pessoas presas ou apreendidas em todo o ano passado pela Divisão de Capturas do Dope (Departamento de Operações Policiais Estratégicas), unidade especial da Polícia Civil cuja principal atribuição é dar cumprimento a mandados de prisão no estado.
Na conta da Divisão de Capturas, segundo a Secretaria da Segurança Pública do estado, nem todos os casos se referem a criminosos. Há, por exemplo, mandados de prisão por falta de pagamento de pensão alimentícia (ou seja, questões cíveis).
Boa parte desse número é, também, segundo policiais ouvidos pela Folha, de pessoas que procuraram o Poupatempo para regularização de documentos, por exemplo, e os funcionários identificaram os mandados em aberto. Assim, os investigadores da Divisão de Capturas só têm o trabalho de buscar o procurado.
De acordo com delegados ouvidos pela reportagem, a baixa produtividade da Divisão de Capturas reflete uma histórica falta de política de governo para tentar reduzir um estoque estimado em mais de 100 mil mandados de prisão em aberto, de criminosos que deveriam estar atrás das grades.
Essa situação acaba criando, ainda segundo os policiais civis ouvidos, sensação de impunidade e de insegurança porque, muitas vezes, as vítimas se deparam com seus algozes pelas ruas, sabendo que há ordens de prisão expedidas contra esses criminosos.
Para o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, o resultado obtido pela Divisão de Capturas é muito baixo, menos de duas pessoas por dia (contra 122 da ação da PM), até pela importância dessas medidas para o trabalho policial.
“É o velho dilema da Civil. Efetivamente, a estrutura deles está fragilizada, está envelhecida, e esses números mostram que quase não tem investigação. É pensão [alimentícia], é Poupatempo. Enfim, redução de impunidade é também cumprir mandados”, disse.
Ainda segundo Lima, a Polícia Civil deveria destinar recursos para essa divisão especial porque o cumprimento de mandados é uma importante ferramenta para reduzir a violência das ruas, porque se retira de circulação criminosos já identificados e que podem continuar delinquindo.
“E a Polícia Civil sabe fazer isso [investigação]. Fez isso no DHPP [homicídios] na época que tinha chacinas. Ela foi lá e prendeu os homicidas contumazes. Investigou e prendeu os caras. E caiu pra caramba [o número de homicídios]. Não é algo que a polícia não sabe. Pelo contrário, ela sabe, é uma polícia tecnicamente preparada, mas, aí, ela precisa priorizar. Precisa ter política”, disse.
Para o presidente do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), Renato Vieira, a realização da operação pela PM às vésperas do Carnaval só demonstra a falta de uma política organizada do estado, um buraco deixado pela ausência de um trabalho paulatino pela Divisão de Capturas.
“O problema todo, que isso [a operação] não esconde, é uma falta de planejamento dos órgãos públicos. Porque a política de cumprimento de mandados de prisão necessariamente precisa ser uma política duradoura –que não dependa de vésperas desse ou daquele feriado”, disse.
Ainda segundo ele, quando há uma desorganização nesse campo, que ocorre não só em São Paulo, é necessária uma análise das autoridades se os mandados de prisão a serem cumpridos estão válidos, fazer uma fiscalização se os crimes não estão prescritos, se não houve uma extinção da punibilidade.
“Nós temos uma política de segurança pública desorganizada, porque ela prende muito, e porque ela não consegue se organizar para priorizar quais e quando os mandados de prisão são cumpridos”, disse o advogado.
Para o especialista em segurança Rafael Alcadipani, professor da FGV, a quantidade de prisões realizadas pela Divisão de Capturas é realmente baixo, mas não de todo.
“Agora, se você vir as condições que estão colocadas e quem acaba sendo preso, eu não acho que é um número baixo. Porque são casos de maior repercussão, que cometeram crimes piores. A impressão que eu tenho, são pessoas que ofereciam risco à sociedade consideravelmente.”
Ainda segundo ele, dadas as estruturas da polícia e da dificuldade em alguns casos, a prisão de menos de duas pessoas por dia, em média, não é ruim. “Agora, se for comparar com o número de mandados que tem em aberto, a polícia deixa a desejar tanto a Civil quanto a Militar”, disse.
De acordo com a PM, a operação desencadeada entre os dias 2 e 10 de fevereiro foi planejada durante cerca de um mês e teve como objetivo tentar reduzir a incidência de crimes durante o Carnaval. Os 854 presos se referem aos sete primeiros dias. Os dados atualizados, dos nove dias da operação, ainda não foram divulgados.
Conforme policiais ouvidos pela reportagem, o comando da corporação solicitou levantamento de mandados de prisão em aberto de criminosos com um perfil específico, principalmente pelas práticas de roubo e furto, além de envolvimento com as chamadas “quadrilhas do Pix”.
Os órgãos de inteligência da PM passaram, então, a realizar levantamentos de possíveis paradeiros desses suspeitos, com base nas rotinas conhecidas.
Essas informações, com as fotos dos procurados, foram repassadas para as equipes de Força Tática e Baeps (batalhões de operações especiais) em todo o estado, que fizeram ações específicas em busca desses alvos, como em bares onde os suspeitos costumavam frequentar.
“Nós tivemos uma surpresa muito positiva, da altíssima produtividade, que foi a prisão de 854 pessoas. Então, são 854 bandidos que estão fora das ruas. Nós temos uma perspectiva de que isso vai impactar positivamente nos números do Carnaval”, disse o comandante-geral da PM, Cássio Araújo de Freitas, na última quinta (9), com dados ainda parciais.
As prisões feitas pela PM nessa ação pré-carnavalesca equivalem a mais de 10% de todas as 8.165 capturas realizadas pelas polícias na capital, em 2022, em cumprimento a ordens judiciais.
Em todo o estado, a PM tem cerca de 2.900 homens e mulheres que atuam nos Baeps. Já nas forças táticas estima-se um efetivo parecido.
A Secretaria da Segurança não informou quantos policiais há na Divisão de Capturas, nem quantos policiais há no Dope atualmente. Estima-se, segundo policiais ouvidos, menos de 50 agentes na primeira unidade, e mais de 300 na segunda.
A pasta informou, porém, que a melhoria do sistema de segurança é uma das metas da atual gestão. “Desde janeiro, a SSP [Secretaria da Segurança Pública] tem trabalhado para recompor os efetivos das forças policiais, ampliar a produtividade policial e o uso de tecnologia no combate ao crime, a fim de aumentar a sensação de segurança da população. Todas essas medidas visam a otimização dos trabalhos policiais”, diz nota.
A pasta não respondeu se considera os números da Divisão de Capturas baixos.
Diz que essa unidade presta apoio a todos os distritos policiais e forças de segurança de outros estados. “Atua com operações em conjunto com o Ministério Público e outros órgãos, como a Luz na Infância, que combate a pedofilia e a pornografia infantil, e apoio ao Deic [Departamento Estadual de Investigações Criminais]. Em 2022, 60.777 pessoas foram presas em decorrência de mandados de prisão no estado pelas forças policiais.”
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, contou ter ido ao batalhão da Rota na semana passada em uma visita informal em que comunicou aos oficiais a decisão do governo em manter as câmeras nos uniformes da Polícia Militar.
O tema foi motivo de embate durante a campanha do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) que defendeu a retirada dos equipamentos mas, diante da repercussão, voltou atrás na decisão após eleito. Leia a entrevista completa de Derrite à Folha de S.Paulo.
“Eu tomei conhecimento realmente dos dados, dos resultados do programa das câmeras depois que eu sentei aqui como secretário, aliás, aqui uma transição. E muita coisa boa o programa apresentou. O programa coíbe o desvio de conduta, por exemplo”, disse Derrite.
“E a conversa com a Rota foi justamente nesse sentido, para falar: ‘Senhores, não vamos retirar as câmeras’. Ela é uma realidade”, declarou.
Durante a campanha ao governo, Tarcísio chegou a dizer que iria retirar a obrigatoriedade de policiais terem uma câmera nas fardas, mas depois recuou e afirmou que iria ouvir especialistas. A implantação da tecnologia teve resultados positivos na redução das mortes de suspeitos e de policiais e se tornou um novo meio de coleta de provas.
No início de janeiro, em sua primeira entrevista como titular da Segurança, Derrite disse que a gestão iria rever o programa. Após repercussão, tanto Tarcísio quanto o secretário declararam que a política não seria alterada nesse momento.